terça-feira, 30 de agosto de 2011

Também gostaria de ser o que eles tanto desejam, ser a boa filha que passeia com seus pais sem brigas, que tem a família unida, aquela que ao chegar em casa receba “Como foi seu dia?” ao invés de apenas trocarem olhares de desgosto, gostaria de ser a filha que traz seu boletim de dar orgulho, gostaria de ser a filha que não sou, a filha da vizinha que é tão melhor que eu, que não é cheia de feridas que nunca são enxergadas, que nunca sente a necessidade de fugir de casa porque nunca ao chegar ganhou um abraço, gostaria de poder dizer que não estou sozinha, que tive um bom dia, mas me lembro que tive um bom dia até um ano atrás quando eu ainda era a menina doce, até me disser que eu não valho nada, e eu comecei a acreditar depois que você saiu gritando que eu nasci para destruir corações, paciência e a vida das pessoas. Eu também gostaria de ser a preferida, ter os olhos azuis e um cara que olhe para mim como se eu fosse a mais linda do mundo, que ande de mãos dadas comigo porque aos quinze anos eu ainda não sei atravessar a rua, gostaria de rir com ele e sentir que alguém me ama, de ser amada ao máximo, e me lembrar de como é sentir as borboletas no estômago que nascem, crescem e se multiplicam a cada sorriso. Gostaria que entendam que meus desabafos precisam de atenção, que as pessoas precisam se sentir importantes e eu sempre preciso de pessoas ao redor, mesmo quando eu não quero admitir isso, gostaria que fosse possível voltar atrás e dizer a meu melhor amigo que ele era a única certeza na minha vida cheia de inseguranças e medos, que eu o amo como um irmão e eu sinto muito por ser tão insensível e distante, gostaria de dizer ao único que amei que anos atrás quebrou meu coração quando teve que ir embora, que desde então eu tenho medo de relações e me sinto insegura quando se trata de amor, gostaria de contar a minha mãe que ela é minha melhor amiga, e que eu a amo com o amor mais sincero que sou capaz de sentir. Eu não me importo de chorar, assumir que é absurdo achar de que o choro é para os fracos, e pela primeira vez admitir que eu não estou bem e pedir ajuda aqueles que me queriam por perto, e eu fugi.

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