terça-feira, 30 de agosto de 2011

Carta não enviada:

(…) Uma conhecida sensação de ausência invadiu esse cômodo, de repente percebi que estava sozinha novamente, o que me faltava? Amor? Você? Felicidade, aquela que encontro no aconchego do teu abraço? Por onde andas meu bem? Por que não voltas? Por que se foste? Por que? Por que? Preciso de respostas, mas tudo permanece em silêncio. 
De repente ouço alguém batendo a porta, me encolho, não quero atender a porta, não quero conversar, não quero ter a sensação de estar vida, não quero desapontar novamente aqueles que amo com minhas olheiras de noites sem dormir, minha aparência desleixada e o apartamento virado ao avesso - que apenas reflete como esta a minha vida. 
Quem quer que seja, parou de bater a porta. 
Eu que vim morar aqui porque necessitava de barulho, me dou conta de que com tanto barulho, a cidade que não para, buzinas de carros, sons no último volume, TV ligada, eu ainda me perco no silêncio. 
O silêncio é o que mais me atormenta, só você conseguia fazer barulho na minha vida. E entre essas palavras sem sentido que traduzem a sua ausência, te peço para voltar, volte. 
Eu ainda te espero para que ajuste o meu relógio, leia meu diário escrito, e que me chame de louca entre um beijo e outro.



Poderia dizer que ele a fazia feliz, não tão feliz como a liberdade um dia a fez, mas a liberdade sem ele não tinha leveza. Ela não queria a rotina de sempre, ela não queria as obrigações, a acomodação. Ela queria que os dois fossem em busca de algo maior, queria se divertir, queria viajar, queria afundar seus pés na grama, queria tomar banho de chuva. Queria ir em busca da felicidade, queria ser livre, não dele- com ele. Queria que a vontade de viver dela fosse dele também, queria que ele fosse menos egoísta e pensasse no laço dos dois, pensasse neles como um só. Ela largaria a vontade de tudo isso por ele, ela se acomodaria na vida dele, cheia de relatórios, domingos cansativos e tempo para nada. Ela faria qualquer coisa pelo homem que a deixava feliz, se ele ao menos fizesse o mesmo por ela.

Também gostaria de ser o que eles tanto desejam, ser a boa filha que passeia com seus pais sem brigas, que tem a família unida, aquela que ao chegar em casa receba “Como foi seu dia?” ao invés de apenas trocarem olhares de desgosto, gostaria de ser a filha que traz seu boletim de dar orgulho, gostaria de ser a filha que não sou, a filha da vizinha que é tão melhor que eu, que não é cheia de feridas que nunca são enxergadas, que nunca sente a necessidade de fugir de casa porque nunca ao chegar ganhou um abraço, gostaria de poder dizer que não estou sozinha, que tive um bom dia, mas me lembro que tive um bom dia até um ano atrás quando eu ainda era a menina doce, até me disser que eu não valho nada, e eu comecei a acreditar depois que você saiu gritando que eu nasci para destruir corações, paciência e a vida das pessoas. Eu também gostaria de ser a preferida, ter os olhos azuis e um cara que olhe para mim como se eu fosse a mais linda do mundo, que ande de mãos dadas comigo porque aos quinze anos eu ainda não sei atravessar a rua, gostaria de rir com ele e sentir que alguém me ama, de ser amada ao máximo, e me lembrar de como é sentir as borboletas no estômago que nascem, crescem e se multiplicam a cada sorriso. Gostaria que entendam que meus desabafos precisam de atenção, que as pessoas precisam se sentir importantes e eu sempre preciso de pessoas ao redor, mesmo quando eu não quero admitir isso, gostaria que fosse possível voltar atrás e dizer a meu melhor amigo que ele era a única certeza na minha vida cheia de inseguranças e medos, que eu o amo como um irmão e eu sinto muito por ser tão insensível e distante, gostaria de dizer ao único que amei que anos atrás quebrou meu coração quando teve que ir embora, que desde então eu tenho medo de relações e me sinto insegura quando se trata de amor, gostaria de contar a minha mãe que ela é minha melhor amiga, e que eu a amo com o amor mais sincero que sou capaz de sentir. Eu não me importo de chorar, assumir que é absurdo achar de que o choro é para os fracos, e pela primeira vez admitir que eu não estou bem e pedir ajuda aqueles que me queriam por perto, e eu fugi.